Objetivos e intenções do Onda Negra.

O Onda Negra surge como um desejo de exteriorização de algumas reflexões que estão diretamente ligadas à questão racial. Almejamos com este espaço a problematização e discussão sobre temas como o racismo, o preconceito racial e a discriminação. Possivelmente, veremos também discussões sobre processos que apontam para uma predominância da desigualdade social e racial no nosso país.

Em alguns momentos, apresentaremos sugestões, análises e reflexões de filmes que abordam diretamente ou indiretamente a temática racial, ou, que dialoguem com a mesma. Salientamos que dentro desta proposta não deixaremos de abordar, por exemplo: a questão de gênero, os processos do mundo do trabalho e a questão racial, a questão da violência racial e, principalmente, alguns processos que envolvam reparação e ganhos para a população negra, como no caso das políticas de Ações Afirmativas.

Por último, explicamos que a origem do nome Onda Negra foi pensado a partir do livro da Celia de Azevedo, "Onda negra, medo branco". Nesse livro, a autora estabelece um intenso debate em torno das "questões senhoriais travadas por abolicionistas e imigrantistas ao longo do século dezenove. Decerto esse debate ainda se arrastaria pelo tempo não fosse a intervenção dos próprios escravos com suas ações autônomas e violentas, aguçando os medos da 'onda negra', imagem vívida forjada no calor da luta por elites racistas."

Sendo assim, julguei pertinente fazer uma alusão a esta "onda negra" que se tratava do medo das elites com os retrospectos das lutas anti-escravistas (ou por libertação dos negros escravizados) como por exemplo, a Revolução Haitiana; para tratar dos problemas contemporâneos que envolvem a condição do negro em nossa sociedade. Enquanto as lutas ganham força por ganhos de direitos, por igualdade de condições no mercado de trabalho em relação aos brancos, por políticas de reparação e de inclusão com as Ações Afirmativas, percebe-se que todo esse movimento ainda desperta em alguns grupos da nossa sociedade um incômodo, uma desconfiança e a meu ver um medo.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Até onde vai esse humor inteligentemente idiotizado, racista e preconceituoso da Globo?



No decorrer da tarde de hoje me deparei nas redes sociais com criticas ao programa Fantástico, da Rede Globo, especificamente, ao quadro humorístico “O Baú do Baú do Fantástico” que exibiu um episódio (em tom sarcástico) sobre o dia 13 de maio de 1988, dia esse, caríssimo para nós negros deste país. Dito isso, não conseguiria ficar sem expressar alguns pensamentos e reflexões indignadas sobre esse racismo que vem sendo protagonizado por esta emissora de TV, se não nos últimos meses, que seja nos últimos anos, ou quem sabe, talvez, desde sempre.

Fiquei observando algumas postagens sobre o que aconteceu e confesso que simpatizei muito com as críticas do Negro Belchior e a forma como ele discutiu e abordou o acontecido. Só não fiquei contente por ver alguns comentários sobre o seu texto, “Rede Globo, fantástico é o seu racismo!”, que discutiam qual a verdadeira forma de se combater tais atitudes racistas. Obviamente, desqualificando o uso das redes sociais, por um aparente cansaço, por já saberem de “tudo” que já está sendo dito e etc., e enfatizando que a práxis transformadora seria a mais importante e o único meio de se mudar essa realidade. Afirmo, contundentemente, que estou de acordo que a práxis pode sim mudar a nossa realidade. Mas desde que entendamos que sem uma ação que perpasse estes meios de comunicação, que instigue a mobilização e, principalmente o conhecimento, essa busca por transformação fica mais difícil.

Não temos que nos fragmentar e nem nos alfinetarmos nos criticando sobre qual é a melhor forma de agir sobre este caso, mas sim nos unirmos e usarmos estes meios e ações para atingirmos o objetivo maior que, a meu ver, é o fim do preconceito racial, do intenso bombardeio inferiorizador/estigmatizador sobre nós negros, que são intentados por esta imprensa elitista, “global” e racista. Não podemos perder o foco da luta anti-racista.

Tenha certeza que já estamos cansados dessa discriminação e dessa TV esteriotipadora, homofóbica, racista e machista.  Então, o que temos que pensar e o que temos que fazer? Fiquei a pensar e cheguei algumas evidências: pegando o caso da rede globo de televisão, é fato que esta empresa expressa a sua atitude racista constantemente. Seja ela nos jornais, com nenhum apresentador fixo que seja negro, nas novelas com o caso do garoto negro que querem cortar o seu lindo cabelo Black, fora as outras dimensões que bem sabemos – como expõem a mulher negra, os trabalhadores negros e etc.; por último, vem os programas de “humor” como o Zorra Total (veja esta crítica feita aos personagens). Que em minha opinião, as duas personagens negras, só expressam uma afronta proposital. E nem adianta me convencer que aquilo é arte.

Com tudo isso, só me resta algumas perguntas: como que os atores negros lidam no dia a dia de trabalho ou gravações? Será que o salário, ou a oportunidade de “figurar” na TV vale mais do que o respeito à condição e à memória histórica de um povo? Não quero jogar a responsabilidade só para os atores, as atrizes, os/as figurantes negros/as que se submetem a determinados trabalhos.

Fico a pensar no papel relevante que teve para a comunidade negra o Teatro Experimental do Negro idealizado por Abdias Nascimento. A sua importância no cenário político, social e até da arte não se contesta. Não quero ser injusto com os atores negros que tem uma postura crítica e política bem definida. Só sei que precisamos fazer mais... Como que os atores negros da rede globo lidam com estas atitudes racistas do seu empregador?

Fico a sonhar com o dia em que todos os atores negros e as atrizes negras se neguem a trabalhar em papeis que reforçam a inferiorização, a violência racial e o preconceito que sempre nos foi imposto e que há muitos anos estamos lutando contra. O que aconteceria? Como seriam os desdobramentos nacionais e internacionais sobre tal fenômeno? Vocês conseguem imaginar nos desdobramentos que tal atitude poderia causar para a emissora que mais exporta novela na atualidade brasileira?

Voltando ao caso do Fantástico, o quadro (assista ao vídeo) descaradamente vai demarcar quem são os usuários das políticas do governo hoje em dia. Quando se referem às políticas que poderiam ajudar os ex-escravos, eles demonstram o tamanho do preconceito e da visão deturpadora que só retroalimenta a visão de muitos preconceituosos na atualidade. “Os ex-escravos serão amparados pelo governo com programas como o “Bolsa Família Afrodescendente”, o “Bolsa Escola – o Senzalão da Educação” e com Palhoças Populares do programa “Minha Palhoça, minha vida”. Percebem que todos se referem aos negros: o negro-pobre, o negro sem educação e o negro sem moradia. Tudo isso tem cor.

Podemos dizer que estamos diante de uma prática de incentivo ao racismo e/ou ao preconceito racial. Como muitos já propagam por aí, somos nós os culpados pela situação e determinadas mazelas do país. Só esquecem que foram estes braços negros que construíram este país, sem receber se quer o reconhecimento de tal feito. Não dá mais para vermos e convivermos com tais situações. Recorrer à justiça se torna um dever. Pensarmos maneiras incisivas de combater a postura desta rede de televisão assume um caráter de urgência.

Como o Belchior bem colocou, por que eles não usam nas suas piadas, ou no seu humor inteligentemente idiotizado, racista e preconceituoso, cenas que se relacionem ao holocausto, ou “às vítimas de Hiroshima e Nagasaki; Ou às vítimas do Word Trade Center ou – para ficar no Brasil – às vítimas do incêndio na Boate Kiss” nas noites de domingo?

Acredito que não podemos deixar que nossas demandas individuais desrespeitem e solapem o passado dos nossos ancestrais e, principalmente, a memória da população negra que muito teve que lutar por liberdade, respeito e direitos.

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